Ser empreendedor sem criar uma empresa.

Vivemos num mundo cheio de empreendedores, onde quem não o é ou quer ser ou é motivado a ser. Desde o início dos tempos, foram os empreendedores que fizeram o mundo girar, mas é hoje que vemos mais claramente a sua influência como estímulo mental para a sociedade.

 Todos nos pedem agora para ser empreendedores. As empresas (algumas) querem aliar o espírito empreendedor à sua cultura interna. Silicon Valley tornou-se no paraíso e todos sentem que também podem lançar o seu próprio negócio. Perdoem-me se pareço cético ao dizer isto, mas acontece precisamente o contrário: adoro que isto aconteça.

 No entanto, queria deixar uma ideia: por vezes esquecemo-nos da parte pessoal do que significa ser um empreendedor. O empreendedorismo não é necessariamente 100% focado nos negócios, já que também diz muito respeito a nós próprios (escrevi um pouco mais sobre isso aqui). Diz respeito à forma como gerimos o nosso tempo, o que e quando fazemos (e talvez mais importante, o que NÃO fazemos), de onde retiramos a nossa inspiração e quais os nossos objetivos. Claro que isto está relacionado com boas práticas dos negócios, já que acabamos por olhar para nós próprios como o produto das nossas próprias capacidades de gestão e isto ajuda, de uma forma ou de outra, a impulsionar a nossa carreira. Mesmo que nunca sejamos fundadores de uma empresa que seja.

 O que eu chamo de empreendedorismo pessoal pode soar a auto-ajuda, mas acho que ganha por focar muito mais no detalhe. Os empreendedores pessoais são os que adquirem uma certa obsessão sobre aquilo que têm de fazer, sobre a qualidade do que entregam, sobre a sua forma de organizar o trabalho, mas também a forma como respondem a um email, como gerem pequenos erros, como organizam a sua própria secretária, como conduzem (ou se comportam em) sessões de brainstorm, como motivam os colegas e se deixam motivar por eles, como estudam o que os outros fazem e aprendem com isso, como transformam a inspiração num estilo de vida, como encaram o descanso mental… enfim, percebem onde quero chegar.

 Li uma vez que a forma como o ambiente de trabalho do nosso computador está organizado reflete o nosso verdadeiro processo de trabalho. Gosto de pensar que a forma como vivemos e trabalhamos diariamente mostra a nossa verdadeira atitude para com nós próprios, e consequentemente para com os outros. É possível ser empreendedor sem criar uma única empresa.

Crónica por: Roberto Estreitinho http://estreitinho.com/

07/10/2013