INOV Contacto: a aventura de Paula Alves Silva em Washington DC

Os estágios INOV Contacto são uma ferramenta preciosa para os jovens licenciados e tem uma taxa de empregabilidade que ronda os 80%. Deixamos abaixo as respostas da Paula Alves Silva, jovem portuguesa licenciada em Jornalismo e Ciências da Comunicação, que sendo natural de Santa Maria da Feira, deixou o Porto para rumar a Washington DC para a sua aventura INOV contacto.

Como conheceste este programa de estágios e o que te levou a candidatar ao mesmo?
Tomei conhecimento do programa INOV Contacto há bastantes anos através dos meios de comunicação social e apesar de na sua maioria, os candidatos serem recém licenciados, eu resolvi candidatar-me pela primeira vez há cerca de 4 anos, tendo sido selecionada no segundo ano de candidatura. A minha primeira experiência fora de Portugal aconteceu ainda enquanto estudante universitária através do programa Erasmus e os meses que vivi fora do meu país permitiram-me perceber as valências e vantagens adjacentes às experiências internacionais. Além disso, queria apreender algo fora da minha zona de conforto e ter a oportunidade de embarcar numa ‘aventura’ profissional que me despertasse para outras realidades e me permitissem aprender a trabalhar num contexto totalmente díspar àquele a que me havia habituado.

Assim que soubeste que o destino seria Washington..o que te passou pela cabeça? Já conhecias a cidade?
Na verdade ainda não tinha visitado os EUA. De certa forma estava à espera do momento certo para o fazer e o programa INOV Contacto acabou por ser esse momento. Tenho de confessar que ver o meu nome junto à cidade de Washington DC foi verdadeiramente uma surpresa. Ao longo dos meses de espera pelos resultados estava quase certa de que seria enviada para a Alemanha, mas enquanto jornalista tenho de afirmar que ser enviada para a capital dos EUA teve um peso muito positivo na minha reacção. Afinal de contas, esta ainda é a cidade onde se tomam as decisões mais importantes do mundo.

Quando é que soubeste qual seria o teu local de estágio?
Eu soube que viria para o Banco Mundial em Dezembro de 2013 e cheguei a DC no início de Fevereiro de 2014.

Descreve-nos genericamente o teu trabalho em Washington.
O nosso projecto tem como objectivo, através de uma alargada comunidade (sobretudo de jovens) online, informar sobre as alterações climáticas, dar a conhecer histórias de todo o mundo relativamente à temática, demonstrar as consequências e, desta forma, fazer com que as pessoas vivam de forma mais sustentável. Em última instância, combater as alterações climáticas, através da acção individual e conjunta. O meu trabalho é verdadeiramente abrangente, mas estou maioritariamente responsável pela produção multimédia – entrevistas, gravação e edição de vídeos, design. Para além disso as tarefas podem envolver escrever textos e artigos para o site, criar conteúdos para as redes sociais, contactar com parceiros, organizar eventos, entre outras tarefas.

Descreve-nos a principal sensação em relação à cidade na primeira semana de estadia.
Bem, este é um grande recuo nas memórias mas recordo-me perfeitamente de sair do aeroporto num dia de neve e de me sentir simultaneamente calma, perdida e excitada, de, de certa forma, me sentir no meu Porto assim que atravessamos o rio para entrar na cidade, de assimilar imediatamente a diferença arquitectónica. O inverno rigoroso congelou-me um pouco essa vontade de ver tudo num fôlego, mas caminhei bastante pelas ruas e sei que nunca me senti sufocada pela imensidão da cidade, que me espantei pela quantidade de actividades culturais disponíveis e pela simpatia das pessoas.

Ambiente de trabalho. Quais as maiores diferenças em relação aos que tiveste em Portugal? 
No Banco Mundial trabalhamos num ambiente tremendamente multicultural e, portanto, foi preciso assimilar que diferentes culturas têm diferentes métodos de trabalho e estabelecem a relação pessoal e profissional de uma forma distinta. A minha equipa é sobretudo formada por europeus e, desse modo, as semelhanças são maiores que as diferenças, mas rodeados de outras equipas percebemos que há naturalmente uma distinção entre a relação profissional e pessoal e a profissional, o ambiente profissional é bastante menos ruidoso/agitado e são bastante mais focados nas tarefas e no delinear do trabalho, com prazos definidos.

Conta-nos a aventura de arranjar casa em Washington? Como são os preços?
Aventura poderá ser realmente a palavra certa. Habitualmente equiparo procurar casa em DC à procura de emprego. Nos anúncios são pedidas informações sobre rendimentos, background cultural, hobbies, características pessoais, dados sobre a personalidade, entre outros. E, não obstante os valores bastante elevados das habitações serem um entrave na procura, as visitas acabam por ser verdadeiras entrevistas. Habitualmente, caso a nossa personalidade não vá de encontro à das restantes pessoas que já se encontram na casa, a entrada poderá ser barrada. O valor médio das rendas de um quarto na área central ronda os 1000 dólares neste momento.

Rotinas e preços de pequenas coisas. Como é ir jantar fora ou tomar café em relação ao custo de vida?
De acordo com os últimos dados, DC é agora a cidade mais cara dos EUA. Se quisermos comparar com Portugal os valores das pequenas compras são mais ou menos 3xs superiores. Os americanos não têm o hábito de tomar um café depois do almoço ou jantar e portanto, dificilmente se encontra o nosso ‘típico’ café português. O café expresso, que não existe em todos os locais, ronda os 2 dólares, o bilhete de autocarro 1.80$, o metro quase 3$, um croissant normalmente mais de 2$. Aquilo que eu chamo de produtos saudáveis: fruta, vegetais, peixe, são bastante caros.

Conhecendo a cidade, é possível jantar fora por um preço razoável, mas por norma os valores são entre os 25 e os 30 dólares, num bom restaurante sempre mais de 50. Obviamente, em geral, são valores ajustados aos salários. Quase inexplicavelmente aqui tem-se a impressão de que o dinheiro se esvai muito facilmente. Essa ideia de que há um grande consumismo na América é de facto real.

 Conta-nos como foi começar a fazer coisas fora do trabalho em Washington. Conheceste muitas pessoas fora do trabalho?
Recordo-me que começamos imediatamente a desbravar Washington. Em termos culturais, DC tem uma oferta imensa de museus grátis e por isso não foi difícil encontrar coisas para fazer. Há imensos concertos a preços muito confortáveis e recordo-me que nos apaixonamos imediatamente pelo 18th street lounge, que para além de ter bandas e djs de ritmos bastante distintos, organiza concertos de jazz maravilhosos. Passamos muito do nosso tempo inicial aí. Para além disso, DC e um verdadeiro melting pot, cheia de jovens que viajam dos mais diversos países para um estágio na capital e, por isso, há bastantes happy hours organizadas para que as pessoas se possam conhecer. Conheci pessoas nesses moldes que felizmente ainda cá continuam e foi assim que se começou a formar um grupo de amigos.

Quais as piores características de Washington para uma portuguesa? E as melhores?
Comecemos pelas melhores: o salário, ajustado às nossas qualificações e anos de experiência. Justo, portanto, o que me permite viajar muito mais. É uma cidade que não obriga ao uso do carro, há transportes públicos suficientes, é possível andar ou usar a bicicleta, e para alem disso uma cidade que incentiva bastante as actividades desportivas. Por outro lado, há bastantes espaços verdes e imensas oportunidades de conhecer melhor outras culturas, quer seja através da gastronomia, das pessoas ou das actividades culturais existentes. Obviamente a experiência pessoal e profissional que se adquire numa cidade tão multicultural é imensamente gratificante.

Em relação as piores, dois pormenores: fazer uma alimentação saudável e dispendioso. DC poderá ser uma cidade solitária. As pessoas focam-se bastante na sua profissão e, em geral, os americanos tem tendência a fecharem-se um pouco em relação a colegas de casa. Para além disso, fazer amigos (e falo sobretudo de americanos) é uma ‘tarefa’ que exige tempo e esforço da nossa parte, no sentido de que inicialmente são muito disponíveis mas se não alimentarmos a relação ela poderá acabar por não existir. E, digamos, uma relação social menos quente e aberta que a Europeia.

 O que te custou mais na adaptação?
Fazer amigos, para além dos portugueses que se encontravam no mesmo programa, e encontrar as pequenas coisas que tinha no meu dia-a-dia em Portugal: locais para tomar café, encontrar os alimentos que consumia em Portugal, encontrar os espaços que me fizessem sentir em casa.

04/08/2015