Erasmus em Roma? E una pizza per favore

Aquela que já foi a capital de um dos maiores impérios da História atrai milhares de turistas todos os anos. O cheiro da pizza a sair do forno, os gelados de mil e um sabores, as noites na Fontana di Trevi e o vinho ao fim da tarde ficam na memória dos que passam por Roma. São muitos os estudantes portugueses que todos os anos escolhem como cidade de destino Erasmus a caótica capital italiana. É uma das cidades mais caras da Europa, é stressante e poluída mas ao mesmo tempo majestosa, romântica e deixa saudades para sempre.

A Clara Siborro é de Lisboa e o Tiago Leão de Valongo, não se conheciam até ao dia em que se cruzaram com os respectivos grupos de amigos num festival de vinho que visitavam com a ESN de Roma.  Os dois estudantes de letras tiveram experiências diferentes na mesma cidade, no mesmo ano, mas guardam os dois para sempre os nomes das ruas e praças daquela que é uma das cidades mais imponentes da Europa.

Hoje a Clara tem 25 anos , mas tinha 21 quando se meteu no avião para Roma onde viveu durante um ano. A procura de alojamento foi uma corrida contra o tempo mas lá se safou com uma casa a 20 minutos da faculdade. Viver no centro da cidade é um atentado ao orçamento da maioria das famílias dos estudantes que vão para Roma então a solução passa por morar nos arredores. O mesmo aconteceu ao Tiago que ficou apenas um semestre, na altura com 19 anos, hoje com 22 que nos explicou que “Roma é caríssima. Encontrar um apartamento com boas condições e com um preço justo no centro da cidade é extremamente difícil, senão impossível.” Foi assim que ele e os amigos decidiram ficar nos subúrbios mas optar por uma casa que lhes permitisse algum conforto, “tínhamos tudo perto supermercados, McDonalds, sítios para comer kebabs, gelatarias…”. Um dos maiores problemas de Roma é o trânsito, o que leva a que quem mora longe da faculdade tenha algumas dificuldades de deslocação “demorávamos bastante tempo para chegar à faculdade, não por ser geograficamente muito longe, mas por causa do trânsito que era caótico dia-sim, dia-sim. O melhor dos dias não se comparava à pior das sextas-feiras em qualquer cidade portuguesa em que já tenha estado”.

A Clara dividiu quarto com uma amiga e a casa com mais três italianos pagava 280 € de renda fora as despesas, e embora a bolsa que recebeu rondasse os 3000€ admite que se não tivesse tido a ajuda dos pais não ia ser suficiente.
A bolsa do Tiago rondava os 1200€ que eram depositados de forma faseada. Pagava 350€ pelo quarto fora as despesas e por isso diz que a bolsa só deu para pagar uma parte da estadia, ou seja, “se estivesse só dependente dela, nunca na vida tinha podido participar no programa de mobilidade”.

Embora de cursos diferentes, a Clara e o Tiago foram em 2011 estudar numa das maiores e mais antigas universidades do mundo : Università di Roma: La Sapienza.

A sensação de falta de acolhimento por parte da faculdade foi, no entanto, mútua. Ambos sentiram que universidade não estava muito preocupada com os estudantes que vinham de fora. O Tiago contou-nos sobre a sessão de apresentação aos estudantes estrangeiros, uma sessão toda em italiano que começou com um anfiteatro cheio e aos poucos ficou vazio porque “ninguém fez um esforço para falar inglês”. As aulas e avaliações também foram sempre em italiano e segundo o que nos contou, os professores não se mostraram preparados para os receber. A Clara falou-nos da desorganização da faculdade “são tão desorganizados que não conseguem fazer mais e o bom desta falta de interesse e desorganização é que eu consegui fazer coisas que normalmente não são permitidas aos alunos italianos”. Ainda assim, o Tiago teve mais sorte no meio da desorganização da Universidade porque quando chegou tinha a burocracia toda em ordem facto cujo mérito atribui aos serviços da Faculdade de Letras do Porto. Mas a Clara não teve a mesma sorte e quando chegou não encontrou nada em ordem mas lembra-nos que “desde que se tenha calma e se ande à procura das coisas, tudo se organiza. É preciso ser-se insistente e estar sempre em cima das coisas, mas no final tudo correu bem” até porque no final a Clara teve professores que a ajudaram e o gabinete de Erasmus tentou sempre dar apoio ao máximo.

Tanto o Tiago como a Clara adoraram a experiência e é bom falar desta desorganização a quem se vai mandar para Roma porque a cidade é belíssima, as aventuras são muitas mas é preciso serem pessoas organizadas e muito determinadas para que tudo corra da melhor forma.

Ao saírem do seu país, a visão sobre vários aspectos ganha novas perspectivas, no caso da Clara percebeu, por exemplo, que o curso História de Arte não é desprezado como em Portugal e percebeu que o curso pode ter uma dimensão prática que até então desconhecia. O Tiago diz que aprendeu a não desdenhar de Portugal porque apesar de todas as dificuldades vividas, o Ensino Superior português “não se deixa ficar atrás do europeu”.

O ex-estudante de jornalismo diz que a experiência académica não foi, de todo, a melhor mas por outro lado, o período de mobilidade ensinou “mais do que aquilo que podia aprender nos livros porque é sem dúvida uma forma de alargar horizontes e de sair da nossa área de conforto”.

Perguntámos ao Tiago que conselhos vos queria deixar, “não se deixem assustar por esta entrevista, se querem mesmo ir, força! Não esperem que seja fácil, mas garanto-vos que, no final, vai valer a pena. Quanto mais não seja porque não é possível passar pela experiência sem aprender qualquer coisa.” A Clara aconselha a gerirem bem as expectativas e a organizarem tudo com antecedência tendo um cuidado especial com o alojamento e com o controle do dinheiro. “Se tiverem oportunidade façam muitas viagens e tentem conhecer pessoas dos mais diversos países, e não apenas pessoas da mesma nacionalidade que a vossa. Aprendam novas línguas e aproveitem esta oportunidade, porque o ano de Erasmus é como se vivêssemos dentro de uma bolha onde estamos a experienciar uma realidade privilegiada. Tudo é possível, tudo é novo e tudo é uma festa.”

Roma fica no coração de todos os que se mandam para lá, até mesmo dos que têm dificuldades de adaptação. Os monumentos, o ambiente do centro histórico, a gastronomia e as noites romanas ficam para sempre guardados com saudade.

E como diz o jovem Leão “ficam também as vivências e a sensação de que somos pequenos, imensamente ignorantes e que de há tanto para absorver que nem que fossemos feitos de esponja conseguíamos reter tudo. Depois, apetece-nos voltar.”

 

17/04/2015